quarta-feira, 31 de julho de 2013

Contos, causos e Thriller por Caroline Moore





O ano é 1986 (mas pode ser 87, claro). Morávamos em uma casa simples de madeira, com um quintal gigante que tinha um pé-de-amora, onde eu gostava de passar as tardes de verão com a língua azul de tanto comer amora no pé. Eu tinha gatos e bonecas, mas brincava bastante sozinha. No banheiro, o abridor de chuveiro era de vidro facetado – e quando eu ia tomar banho eu achava que estava mergulhando em uma cachoeira atrás de um diamente perdido. E nessa atmosfera, eu vivi boa parte da minha infância.

Nós tínhamos uma vizinha, a Cris, que instantaneamente se tornou a melhor amiga da minha irmã. O quintal dela era 2 vezes maior que o nosso, com vários pés-de-fruta (abacateiro, mangueira, laranjeira). E no verão de 86 (ou 87) eu tinha 7 anos – ou 8 – e passamos a maior parte do tempo sentadas na grama embaixo do abacateiro, tomando picolé e ouvindo Michael Jackson, do qual Cris era fã. Naquela época a Tata (minha irmã) ouvia RPM (e ela que mandava na vitrola de casa) então era legal ouvir outra coisa que não fosse Olhar 43.

Nós entrávamos no quarto de hóspede pra ficar deitadas na cama ouvindo Thriller em vinil. Mas elas sempre, sempre, no final da música, quando fica aquele cara falando com aquela risada no final, me trancavam no quarto com a luz apagada. Imagina meu pânico. Eu gritava tanto, tanto. Pra quem via diamante dentro de uma caverna atrás de uma cachoeira no chuveiro, eu claramente via os zumbis dentro do quarto comigo.

E foi disso que eu me lembrei ontem no mercado quando comprávamos um Pacu enorme pra fazer peixe espalmado. Eu estava com uma caixinha de castanhas do pará na mão quando o Gio me chamou e disse que ele havia morrido. Fiquei triste. Acho que ela disse bem, que “(…)É sempre difícil falar do Michael Jackson. Porque tornou-se mais importante a relação que as pessoas tem com ele. O tanto de significado que colocaram. Enfim. Dizem que a música ficou esquecida em meio aos escândalos. Eu digo que não é isso. Eu acho que ele ficou esquecido no meio do tanto de opiniões que temos a respeito dele.(…)”. É uma perda imensurável pra cultura pop, não só americana não – sem fazer  juízo de valor.


FONTE: Texto publicado originalmente no blog BISCOITOS E CHÁ no dia 26/06/09
 

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