quinta-feira, 25 de abril de 2013

'MEU AMIGO MICHAEL' CAPITULO 1 - UM NOVO AMIGO




Era um dia frio, eu tinha 4 anos e estava na sala de estar de casa, me divertindo com uma limusine de brinquedo. Eu era obcecado por aquela limusine, como toda criança dessa idade costuma ser com seus brinquedos favoritos. Então, quando meu pai disse que iria me levar com ele ao trabalho para me apresentar a um amigo, minha primeira preocupação foi saber se poderia levar o carrinho. Nunca tinha ouvido falar de Michael Jackson, portanto, quando ele me disse o nome da pessoa que iríamos conhecer, não dei muita importância. Estava apenas feliz em sair de casa e orgulhoso por acompanhar meu pai ao trabalho (desde que pudesse levar minha limusine de brinquedo).



É claro que eu não fazia idéia de como aquele encontro seria importante – um verdadeiro divisor de águas na minha vida. Ainda assim, não sei por que, lembro-me perfeitamente daquele dia, até da roupa que estava vestindo: calça azul-escura, suéter azul, gravata-borboleta e sapatos sociais marrons com pequenos furos no bico. Eu sei, uma roupa meio estranha para uma criança de 4 anos, pelo menos ao longo dos últimos 100 anos. Mas eu estava sempre vestido de forma impecável – meu pai tinha nascido na Itália, a capital mundial da moda. Meu cabelo era curto e liso. Ou seja, eu era uma criança bem-arrumada, elegante e fissurada em limusines.

Na época, meu pai trabalhava no Helmsley Palace, em Manhattan, um hotel cinco estrelas exclusivo, com um clientela de elite. Meu pai era o gerente geral das torres e das suítes – as acomodações de luxo destinadas aos clientes VIP. Para mim, o hotel sempre foi um lugar mágico. Talvez fosse a energia vibrante das pessoas que iam e vinham cada qual com seus compromissos importantes. Na época, eu não conseguia entender tudo o que estava acontecendo, mas podia sentir no ar a agitação. Ainda me lembro do cheiro do lobby e da emoção que sentia por estar ali. Adoro hotéis.


Meu pai e eu pegamos o elevador e nos dirigimos para um dos quartos. Fomos recebidos à porta por um homem que mais tarde me seria apresentado como Bill Bray, então administrador e chefe da equipe de segurança de Michael Jackson. Bill Bray era uma espécie de figura paterna para Michael. Trabalhava com ele desde a época da Motown e continuaria como seu consultor de confiança por muitos anos.


Bill era mulato claro, tinha uma barba bem-aparada, 1,90 metro e, naquele dia, estava usando um chapéu de feltro. Tinha várias dobras de pele na nuca e um estilo um tanto “rústico”. Nos anos seguintes, eu veria muitas vezes Michael imitando seu jeito descontraído de andar logo atrás dele. Bill cumprimentou meu pai calorosamente. Parecia que os dois já eram amigos.


Entramos com Bill no quarto, que parecia intocado, como se ninguém estivesse hospedado ali. Na verdade, a julgar pelo que sei dos hábitos de Michael, aquela sem dúvida não era a suíte que estava usando: ele havia reservado o quarto especialmente para aquela reunião, pois ainda não nos conhecia o suficiente. Embora Michael estivesse sempre disposto a ajudar o próximo, tinha o hábito de criar barreiras de proteção entre ele próprio e as pessoas que acabava de conhecer.


Michael se levantou de uma poltrona para nos cumprimentar. Ele não me pareceu nada excepcional. Aos 4 anos, a única distinção que eu fazia entre as pessoas era se elas eram adultas, crianças maiores ou crianças do meu tamanho.

“Ei, Joker”, disse Bill. “Dominic e seu filho estão aqui para ver você.”

Mais tarde eu entenderia que Bill chamava Michael de “Joker”, ou seja, piadista em inglês, pelo motivo óbvio de que ele estava sempre pregando peças nas pessoas. Michael abriu um largo sorriso para mim, tirou os óculos e apertou minha mão. Aos 26 anos, ele era um artista mundialmente famoso, e seu disco mais recente, Thriller, era o álbum mais vendido da história – um recorde mantido até o momento em que escrevo estas linhas.


Assim que nos acomodamos, Bill Bray foi embora e meu pai, Michael e eu ficamos naquele quarto um tanto vazio, jogando conversa fora.


“O seu pai é um homem maravilhoso”, Michael disse para mim. Ele repetiria isso muitas vezes ao longo dos anos e eu sabia que havia sido por conta da impressão especial que teve do meu pai que quis conhecer o restante da família. As pessoas se sentiam imediatamente à vontade na presença do meu pai. Ele transmitia honestidade e sinceridade.

Michael e eu começamos a falar sobre desenhos animados. Eu lhe disse que adorava o Popeye e tive a “honra” de lhe apresentar a Gang do Lixo, cujas figurinhas eu e meu irmão colecionávamos. Michael sabia conversar com crianças – ele demonstrou um interesse genuíno em meu pequeno mundo – e eu devo ter gostado dele, pois me lembro de ter passado minha limusine de brinquedo por sua cabeça, seus ombros e seus braços. Ele pegou o carrinho das minhas mãos e o fez sobrevoar minha cabeça como um avião, fazendo barulho de motor.

– O que você quer ser quando crescer? – perguntou Michael.
– Quero ser igual ao Donald Trump – respondi –, só que com mais dinheiro.


Meu pai riu.
– É mole? – disse ele.

– Donald Trump não tem tanto dinheiro assim – comentou Michael.
Então meu pai pediu para tirar uma fotografia de Michael comigo. Eu
subi no colo dele e passei o braço em volta do seu rosto. Sorri e nós tiramos uma foto.

E foi assim que conheci Michael. Anos mais tarde, ele mostraria essa foto para as pessoas e diria: “Dá pra acreditar que este é o Frank?” A espontaneidade da imagem – nossos sorrisos, a mecha de cabelo caída no meio da testa de Michael – foi um presságio da importância que a ocasião assumiria para mim no futuro.



Passamos uma hora com Michael naquele dia e, ao nos despedirmos, ele disse que ligaria para nós da próxima vez que estivesse em Nova York e que adoraria nos encontrar novamente. Enquanto voltávamos de carro para Nova Jersey, meu pai lançou um olhar para o banco de trás e disse para mim: “Você nem imagina quem acabou de conhecer.”


Meu primeiro encontro com Michael se deu por conta da estima que ele tinha pelo meu pai: sempre que ficava hospedado no Palace, era meu pai quem o atendia. Essa era sua função no hotel e ele era bom no que fazia. Certificava-se de que a suíte preferida de Michael estivesse disponível quando ele chegasse. Se Michael quisesse uma pista de dança no quarto, meu pai cuidava para que ela fosse instalada. Quando Gregory Peck se hospedou no hotel e Michael quis conhecê-lo, meu pai providenciou o encontro. Ele supervisionava a segurança para quando Michael entrasse e saísse do hotel. Ficava atento até mesmo aos menores pedidos, como alguma comida especial. Fazia o possível e o impossível para que Michael tivesse tudo o que precisasse ou quisesse.


Michael sabia que meu pai estava encarregado disso tudo, então disse a Bill Bray que queria conhecer Dominic. Bill Bray fez com que os dois passassem um tempo juntos. À medida que se conheciam melhor, meu pai começou a ver Michael como uma pessoa extremamente calorosa, gentil e humilde. Ao mesmo tempo, tenho certeza de que meu pai deixou Michael à vontade ao demonstrar que não estava interessado nele por conta de seus status de celebridade. Não era um deslumbrado. As pessoas sempre se sentiram atraídas pelo meu pai por sua sinceridade. Sua postura reflete o fato de que ele vê as pessoas como pessoas. Ele escuta sem julgar e ajuda sem querer nada em troca. 


Esse tipo de tratamento era raro no mundo de Michael, que passou a considerar meu pai um amigo. Ele não fez a série de exigências que as outras celebridades costumavam fazer. Quis apenas conversar com meu pai, conhecê-lo como pessoa. Meu pai não buscava esse tipo de intimidade com os clientes VIPs que se hospedavam no hotel. Foi Michael quem iniciou a amizade, o que sem dúvida o deixou lisonjeado, embora não mais do que deveria. A amizade cresceu e evoluiu, tornando-se um vínculo de camaradagem, lealdade e confiança que se estenderia por toda a vida de ambos.

Obviamente, conhecer Michael Jackson não teve muita importância para mim aos 4 anos. Eu não fazia ideia de quem ele era. Também não sabia o que era Thriller, ou o moonwalk, ou os Jackson 5, e não teria feito diferença se alguém me explicasse. Não me interessava muito por televisão ou música, exceto pelas que minha mãe ouvia no carro. Eu era uma criança normal de Nova Jersey, exceto pelo fato de usar gravata-borboleta de vez em quando. Meu amigo Mark Delvecchio e eu gostávamos de construir fortes à beira da rua e disparar pistolas de água contra os carros que passavam. Eu adorava jogar bola, brincar no mato, escalar árvores e me sujar todo – vibrava por estar ao ar livre. Era um menino feliz e espontâneo.


Também gostava de qualquer pessoa nova que demonstrasse ter os mesmos interesses que eu. Não tinha nenhum preconceito, não julgava as pessoas. Michael era amigo do meu pai e duas décadas mais velho que eu, mas, quando falava comigo, nunca era como um adulto falando com uma criança. Era como um amigo falando com outro. Nós brincávamos juntos e, por um bom tempo, essa base infantil foi suficiente para sustentar nossa amizade.


Duas ou três semanas depois de nos conhecermos, meu pai me levou ao hotel, juntamente com meu irmão Eddie e minha mãe, grávida na época, para ver Michael novamente. Essas foram as únicas vezes que o encontrei até a noite em que a campainha da nossa casa em Hawthorne, Nova Jersey, tocou bem depois de eu ter ido dormir. Hawthorne era uma cidade modesta e nossa casa era pequena. Meu irmão e eu dividíamos um quarto com camas separadas por uma penteadeira. Lembro-me de ficar deitado na cama, tentando imaginar quem estaria tocando a campainha no meio da noite. Ouvi a porta lateral se abrir e, logo em seguida, meus pais vieram à porta do nosso quarto para nos acordar. Havia dois homens com eles. Um era Billy Bray, o outro, Michael Jackson.


Uma visita noturna era um acontecimento raro e empolgante. Meu irmão e eu saltamos da cama para recebê-lo e eu saí correndo para pegar nossa impressionante coleção de figurinhas da Gang do Lixo e exibi-la a Michael. Meus pais nos pediram para mostrar a ele que sabíamos tocar piano; embora não estivesse muito disposto a tocar, arranhei o tema de Star Wars e “Für Elise”. Meu irmão Eddie, que aos 3 anos já era melhor músico do que eu, tocou o tema de Carruagens de fogo. Michael ficou encantado com a performance.


Seria exagero dizer que, àquela idade, eu já notava algo de diferente em Michael, algo que o destacava dos outros adultos, mas, em sua visita seguinte, eu lhe ofereci o que considerava um grande presente, um dos meus bens mais preciosos: minha coleção de figurinhas da Gang do Lixo. A princípio ele recusou, mas vendo como ele estava fascinado pela coleção, eu insisti: “Quero que você fique com ela.” Esse foi o primeiro presente que dei a Michael e ele o guardou para o resto da vida (no seu closet bagunçado em Neverland).


A partir daí, Michael passou a nos visitar com frequência. Na época, ele ia bastante a Nova York, pois estava em turnê com os Jackson para o álbum Victory, e todas as vezes fazia questão de aparecer na nossa casa. Por que Michael fazia isso? Por que o homem mais requisitado do mundo do entretenimento começou a abrir espaço em sua agenda para uma família tão convencional quanto a nossa? Acredito que, para Michael, nós representávamos algo que, apesar de toda a sua fama, ele não tinha – e que talvez desejasse ter. Ser amigo da minha família possibilitava a ele escapar para a vida pacata e suburbana de Nova Jersey e, ao menos por alguns instantes, ter uma vida comum com uma família comum.

Quanto a passar tempo com crianças e se interessar por brinquedos e desenhos animados, não havia nada de sexual nisso para Michael. Quando estava rodeado de crianças, podia ser ele mesmo. Ele havia passado a vida inteira sob os holofotes e, por conta disso, as pessoas o viam de forma diferente. Mas, para as crianças, não importava quem ele era. Sei que para mim não importava.


Naquela turnê, os Jackson fizeram três shows no Giants Stadium e meus pais levaram a mim e ao meu irmão a todos eles. No início do primeiro espetáculo, quando Michael começou a cantar, eu olhei para o meu pai e perguntei: “Este é o mesmo Michael Jackson que costuma aparecer lá em casa?” Foi a primeira vez que percebi que havia algo verdadeiramente especial naquele homem simpático que, como eu, adorava desenhos animados, a Gang do Lixo e brinquedos em geral. No palco, ele se transformava. Aquele não parecia o nosso amigo Michael. Aquele era Michael, o superastro.


Os shows eram muito tarde para um menino tão novo, e meus pais, especialmente minha mãe, tinham restrições quanto a isso. Mas conseguir ingressos de camarote para uma apresentação de Michael Jackson não acontecia todos os dias e eles queriam nos oferecer o maior número possível de experiências inesquecíveis. Talvez Michael fosse o maior astro do mundo e talvez eles se sentissem especiais por terem uma relação tão íntima com ele, mas esse tipo de raciocínio não influenciava suas decisões como pais. Eles não estavam deslumbrados com Michael. Conhecê-lo e passar algum tempo com ele era uma experiência e tanto, sem dúvida, e isso era importante. Mas ir aos concertos e desfrutar dos momentos com Michael era o tipo de coisa que meus pais fariam com qualquer pessoa querida.


O que meu pai considerava especial em Michael não era sua fama nem seu estrelato. Era seu sorriso, sua sinceridade, sua humanidade. O fato de um ícone no mundo do entretenimento nutrir uma amizade autêntica por toda a nossa família o comovia. Minha mãe é uma pessoa prestativa e, à medida que conhecia melhor Michael, passou a agir de forma maternal e protetora com ele, como fazia com qualquer pessoa querida e de confiança. Ela sempre esteve ao seu lado, especialmente quando, com o passar dos anos, sentiu que ele precisava de sua lealdade e de seu apoio.


Meus pais acreditavam que era preciso participar ativamente da vida. Nossas portas estavam abertas para o mundo e qualquer pessoa queentrasse em nossa casa encontraria calor e conforto. Dominic Cascio, meu pai, foi criado no sul da Itália. Cresceu entre Palermo e Castelbuono, a pequena cidade que mencionei anteriormente. Castelbuono é um vilarejo, um lugar especial onde as pessoas não precisam ganhar muito dinheiro para apreciar as melhores coisas da vida. Amor, família, religião, comida – esses são os prazeres importantes em Castelbuono. Sei que tudo issoparece um daqueles clichês cinematográficos sobre culinária e romance na ensolarada e pitoresca Toscana, mas é verdade. Meu pai foi criado lá e, embora minha mãe tenha nascido em Staten Island, sua família também era de Castelbuono.

Durante minha infância, nossos jantares de domingo sempre contavam com convidados além da família, que por sinal crescia a passos largos. Embora minha mãe ainda não tivesse todos os seus cinco filhos, era comum ela acabar cozinhando para quase 20 pessoas. Nossa casa em Nova Jersey era como um hotel: sempre tinha gente aparecendo, ficando para jantar, passando dias, semanas e até meses. Não era de espantar que meu pai fosse tão bem-sucedido no Helmsley Palace: havia anos que administrava o Cascio Palace. Meus pais eram o centro de toda a família e eram eles que cuidavam para que os parentes se reunissem, o que geralmente significava fazer uma refeição juntos. Para eles, a família era primordial – e nós fomos criados nessa filosofia.

Acredito que Michael tenha identificado nossos valores desde o começo. Ele já se sentia à vontade na presença de meu pai e, quando conheceu o restante de nós, deve ter percebido que éramos basicamente pessoas afetuosas e honestas, que não tinham nenhum outro objetivo ou intenção além de viver a vida e ser feliz. A explicação mais provável para o fato de Michael ter se apaixonado pela minha família é que nunca o vimos como Michael Jackson, o popstar. Meus pais não criaram seus filhos para julgarem as pessoas nesses termos. Nós reconhecíamos e respeitávamos o talento e o sucesso de Michael, assim como as exigências que isso lhe acarretava, então nos adaptávamos à sua agenda nada convencional, fazendo concessões no que dizia respeito à logística, mas sem abrir mão de quem éramos ou de como o víamos. Para falar a verdade, o mais importante para mim era o fato de ele ser um adulto que gostava da Gang do Lixo e de desenhos animados. Isso sim era impressionante. Estava pouco me lixando para o megaestrelato.

Durante os cinco anos seguintes, essa foi nossa relação com Michael. Quando a campainha tocava tarde da noite, Eddie e eu sabíamos que era ele. Corríamos para lhe dar um abraço e mostrar qualquer brinquedo novo que tivéssemos ganhado ou truques que houvéssemos aprendido, enquanto a família toda falava ao mesmo tempo, recebendo-o como um parente querido e distante cujo voo tivesse atrasado.


Nunca fui de dormir muito. Às vezes eu ficava zanzando pela casa à noite, espiando meus pais, deleitando-me com os mistérios do mundo dos adultos. Mas de vez em quando compensava essas horas perdidas caindo num sono pesado. Deve ter sido numa dessas noites que a campainha não me acordou. Em vez disso, quando abri os olhos, deparei com um chimpanzé fazendo barulho bem na minha cara. Deduzi, com uma calma e uma confiança que me surpreende até hoje, que estava sonhando enquanto observava o animal pular até a cama de Eddie e acordá-lo também. Foi então que percebi que Michael, Bill Bray, meus pais e outro homem que logo me seria apresentado como Bob Dunn, o treinador do chimpanzé, estavam parados ali, no meu quarto pequeno. Já passava da meia-noite e o macaco, que estava quase matando meu irmão de susto, era o lendário Bubbles, o adorado animal de estimação de Michael.


À medida que Michael se tornava uma presença constante em minha vida, fui descobrindo algumas informações sobre ele e sua música. Assim que o conheci, disse à minha professora do jardim de infância, a Sra. Whise: “Eu sei tocar piano. Vou tocar ‘Thriller’ para a senhora.” Comecei a castigar as teclas, crente que sabia tocar o instrumento e que minha versão da música impressionaria a turma. Mas a Sra. Whise disse apenas: “Saia já daí. Você vai quebrar o piano.”

Cerca de um ano depois, quando estava no primeiro ou no segundo ano do ensino fundamental, eu deveria levar algo interessante para uma apresentação na sala de aula. Não fazia ideia do que levar, até que minha mãe sugeriu uma foto de Michael. Embora ainda pensasse nele como meu amigo Michael, já estava começando a perceber que as pessoas o conheciam como algo maior do que isso, como o homem que eu tinha visto se apresentar num palco imenso no Giants Stadium, em meio a todas aquelas luzes e aplausos. Então levei a fotografia para a escola – a mesma que havia sido tirada no dia em que nos conhecemos. 


O garoto que se apresentou antes de mim percorrera a sala de aula mostrando um urso de pelúcia para os colegas. Ele nos disse o nome do ursinho e o que havia de tão especial nele. (Desculpe-me por não me lembrar dos detalhes.) Então eu me levantei e disse:
– Esta é uma foto do Michael. Ele é meu amigo. É cantor e artista. Minha professora, que já devia ter quase 60 anos, me chamou à sua mesa e pediu para ver a foto em minhas mãos. Ela me pareceu um pouco espantada.


– Isso é de verdade? – perguntou ela.
– Sim, é de verdade – respondi.
Então ela falou:
– Turma, este é o Michael Jackson. Ele é um cantor muito, muito famoso. E embora eu não entendesse bem por que, me senti orgulhoso.


Quando ficava na nossa casa, uma das atividades preferidas de Michael era ajudar minha mãe a fazer faxina. Ele adorava passar o aspirador de pó. Contou que, quando era criança, ele e seus irmãos limpavam a casa e cantavam ao mesmo tempo. Um irmão cantava a primeira estrofe, outro inventava o pré-refrão e um terceiro precisava bolar o refrão, ou, como dizia Michael, o gancho. Então alguém cantava a segunda estrofe e outro irmão fazia a ponte – assim os irmãos costumavam compor músicas ótimas enquanto faziam a faxina. Ou pelo menos era o que ele dizia (sempre suspeitei que essa história fosse um truque para motivar meu irmão e eu a ajudarmos na limpeza).


Minha mãe arrumava as camas e limpava os quartos. Nesse sentido, éramos bastante mimados, mas Michael sempre nos incentivava a ajudá-la. “Vocês não fazem ideia de como a mãe de vocês é especial”, ele dizia. “Um dia vão entender isso.”

Michael dizia que Connie, nossa mãe, lembrava-lhe Katherine, a mãe dele, e nunca vou me esquecer da vez em que fiquei com raiva da minha mãe e gritei com ela. Michael me censurou com rispidez, dizendo: “Nunca fale desse jeito com a sua mãe. Nunca! Ela trouxe você ao mundo. Você não estaria aqui se não fosse por ela. Deve respeitá-la.”

Por ser descendente de italianos, eu já sabia que deveria respeitar minha mãe. Mas ouvir isso de Michael conferiu um peso extra à bronca que já estava cansado de ouvir e levei suas palavras a sério.

Uma das coisas que Michael mais gostava na minha mãe, além de sua ternura e seu coração maternal, era de sua comida. Toda vez que ia à nossa casa, implorava a ela que preparasse peru assado para o jantar, acompanhado de purê de batata, inhame e molho de cranberry. E, sem exceção, bolo de pêssego para sobremesa. Quando Michael falava sobre o bolo de pêssego, era como se estivesse falando da Segunda Vinda de Cristo.

Meu tio Aldo e meu pai eram donos de um restaurante chamado Aldo’s. Quando levávamos Michael até lá, costumávamos comer numa sala reservada para que ele se sentisse à vontade e aproveitasse a refeição sem ter que lidar com olhares curiosos.

Quer estivéssemos comendo em casa ou no Aldo’s, estar na companhia de Michael sempre nos pareceu a coisa mais natural do mundo. O engraçado é que nenhum de nós falava a respeito dele com outras pessoas. Nós o amávamos, mas, ao mesmo tempo, sempre buscamos protegê-lo. Ele era um de nós.
 
FONTE: Texto retirado do livro MEU AMIGO MICHAEL de Frank Cascio, versão brasileira.





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