Essa entrevista foi
concedida por Michael Jackson a apresentadora Ophah Winfrey no seu rancho
Neverland, em 1993.
Oprah: A casa de Michael
Jackson não se parece em nada com o que se imagina. Pensei que havia Ihamas
andando pela sala de visitas e, talvez, alguns chimpanzés pulando por ai. Eu
estava completamente enganada. Há áreas alucinantes neste rancho de 2.700
acres, mas a casa onde Michael faz suas refeições, dorme e vive é simplesmente
linda. Há uma biblioteca repleta de obras Clássicas com encadernação de couro e
arte pendurada nas paredes – nada, em absoluto, do que pensávamos que iríamos
encontrar. Senhoras e senhores, Michael
Jackson!
Oprah: Você está muito
nervoso?
Michael: Nem um pouco.
Oprah: Não está mesmo?
Michael Jackson: Não, eu nunca fico
nervoso.
Oprah: Pensei que você
ficaria um pouco, mas já que não está isso é bom. Quero apenas que o mundo
saiba que quando concordamos em fazer esta entrevista, você disse que estaria
disposto a falar comigo sobre tudo.
Michael: É verdade.
Oprah: Pura verdade. Eu
vi que você acompanhando o vídeo que apresentamos sobre seus primeiros anos, no
inicio do programa. Aquilo lhe trouxe lembranças?
Michael: Aquilo me fez dar
risadas, porque faz tempo que não vejo essas sequências. Se me despertou
lembranças? Sim... eu e meus irmãos, a quem amo tanto... foi um momento
maravilhoso para mim.
Oprah: Você era assim
alegre, fora do palco, como aparecia nele?
Michael: Bem, estar no
palco era como estar em casa, para mim. Eu me sentia muito confortável lá e
quando saia ficava bem triste.
Oprah: é mesmo?
Michael: Por estar sozinho,
tendo de enfrentar a popularidade e tudo o que ela representa. Havia momentos
em que eu me divertia, mas sempre costumava chorar de solidão.
Oprah: Isso começou com
que idade?
Michael: Ah... muito
pequeno... com uns oito ou nove anos.
Oprah: O que lhe custou
perder a infância ou ter esse tipo de vida?
Michael: Bem... você não
faz coisas que as outras crianças fazem como ter amigos e ir festas. Não tive
nada disso. Não tive amigos quando era pequeno. Meus irmãos é que eram meus
amigos.
Oprah: As crianças sempre
encontram um jeito de escapar... eu me lembro que brincava com bonecas e falava
sozinha. É aquele mundo infantil, da imaginação. Você tinha tempo para fazer
isso?
Michael: Não. E acho que
por isso tento compensar. As pessoas ficam imaginando por que eu sempre tenho
crianças ao meu redor, e é justamente porque nisso encontro o que não tive na
época, você sabe, ir à Disneylândia, parques de diversões, jogos esportivos. Eu
adoro todas essas coisas, porque quando era pequeno só o que havia era
trabalho, trabalho, trabalho... de uma apresentação a outra. E se não fosse um
show, era uma gravação no estúdio, uma aparição na televisão ou sessões de
cinema. Sempre havia algo para fazer.
Oprah: Então ali estava
você, Michael Jackson, com todos os seus sucessos e chorando porque não podia
se como as outras crianças.
Michael: Eu amava e ainda
amo o show business, mas há momentos em que você deseja brincar e se divertir
um pouco... e essa parte é que me deixava triste. Lembro que uma vez estávamos
prontos para ir à América do Sul, com toda a bagagem no carro, e eu me escondi.
Estava chorando porque realmente não queria ir, queria ficar brincando.
Oprah: Seus irmãos tinham
ciúme quando as atenções começaram a se concentrar em você?
Michael: Que eu saiba, não.
Acho que eles sempre ficavam felizes por mim. Nunca senti ciúme da parte deles.
Oprah: Qual sua relação
com a família? Ainda são próximos?
Michael: Eu amo demais
minha família. Gostaria de vê-los com mais freqüência. Mas entendemos que não é
possível porque somos uma família do show business e todos trabalhamos.
Oprah: Passar da infância
para a juventude deve ter sido um período particularmente difícil para você?
Michael: Muito, muito,
muito difícil, sim. Penso que toda criança que chega ao estrelado sofre durante
essa fase, porque não é mais aquela criancinha linda de antes. Você começa a
crescer, mas eles querem manter você pequeno para sempre. E eu tinha graves
problemas de pele, o que me tornava retraído. Eu nem queria me olhar no
espelho. Costumava esconder o rosto, no escuro. Meu pai ficava me gozando por
causa disso, o que eu odiava. Chorando todos os dias.
Oprah: Seu pai gozava de
você por causa das espinhas?
Michael: Sim, e dizia que
eu era muito feio.
Oprah: Como é a sua
relação com ele?
Michael: Eu amo meu pai,
mas não o conheço.
Oprah: Você fica zangado
por ele ter feito isso? Acho que é uma atitude muito cruel.
Michael: Ás vezes eu fico,
sim. Eu não o conheço do jeito que gostaria. Minha mãe é maravilhosa. Para mim,
ela é a perfeição. Eu gostaria de entender meu pai.
Oprah: Então, vamos falar
sobre aqueles anos da adolescência. Foi quando você começou a ficar
introspectivo?
Michael: Aqueles foram anos
tristes, muito tristes para mim.
Oprah: Por que tanta
tristeza, quando se apresentava no palco e ganhava mais e mais Grammys?
Michael: Há muita tristeza
em meu passado, em minha adolescência, em relação a meu pai e todas aquelas
coisas.
Oprah: Ele alguma vez
bateu em você?
Michael: Sim.
Oprah: E por quê?
Michael: Não sei se eu era
para ele uma criança de ouro ou algo assim, mas ele era muito rigoroso, duro,
severo. Com apenas um olhar, deixava você apavorado.
Oprah: E você ainda tem
medo dele?
Michael: Muito Houve
períodos em que quando ele vinha me visitar eu começava a passa mal e vomitava.
Oprah: Quando era criança
ou já adulto?
Michael: Ambos. Ele nunca
me ouviu dizer isso. Sinto muito. Por favor, não fique triste comigo.
Oprah: eu acho que todas
as pessoas têm de assumir a responsabilidade pelo que fizeram na vida. E seu
pai é uma delas.
Michael: Mas eu o amo.
Oprah: Sim, eu
compreendo.
Michael: E eu estou
perdoando.
Oprah: Mas você realmente
pode perdoar?
Michael: Sim, posso. Há muito
lixo no que foi dito a meu respeito, pura mentira, e isso é uma das coisas
sobre as quais quero falar. A imprensa errou muito. Meu Deus! Historias
horríveis, o que me fez refletir que quando se repete demais uma mentira você
começa a acreditar nela.
Oprah: E a propósito dos
rumores, cheguei a esta casa certa de que ia encontrar uma câmara de oxigênio.
Andei por todos os cantos e não havia nenhuma.
Michael: Essa historia e
muito louca, uma dessas coisas de tablóide, um erro completo.
Oprah: Mas tenho aqui uma
fotografia sua em uma câmara de oxigênio.
Michael: Ah... isso! Eu fiz
um comercial para a Pepsi e sofri graves queimaduras, então doei um milhão de
dólares para a construção de um lugar chamado Michael Jackson Burn Centre
(Centro para Queimados Michael Jackson) e aquela máquina é uma parte da
tecnologia usada para esse tipo de ferimento. Eu olhei para aquilo e quis
entrar, alguém tirou uma fotografia e a pessoas que revelou disse: “ Olha, é
Michael Jackson!”. Fez cópias e essas imagens circularam pelo mundo com aquela
legenda mentirosa. É pura mentira, então por que as pessoas compram esses
jornais?
Oprah: Você está certo...
e essa historia parece ter ganhado asas!
Michael: É uma loucura. Por
que alguém ia querer dormir numa câmara? (Risos.)
Oprah: O boato era que
você estava dormindo numa câmara porque não queria envelhecer.
Michael: Isso é estupidez.
Estou disposto a perdoar a imprensa ou perdoar quem quer que seja, mas, por
favor, não creiam nessas coisas loucas e pavorosas.
Oprah: Você comprou ou
estava tentando comprar os ossos do Homem Elefante?
Michael: Não. Essa é outra
bobagem. Adoro a historia do Homem Elefante, lembra muito a mim mesmo, até me
faz chorar porque eu me vejo nesse caso, mas nunca quis... Onde é que ia
guardar ossos e por que ia querer alguns?
Oprah: Não sei. Então,
onde surgiu essa historia?
Oprah: Recentemente ouvi
outra: havia um boato de que você queria um menininho branco para fazer seu
papel em um comercial da Pepsi.
Michael: Estupidez. Essa é
a mais ridícula e horrível historia que eu já ouvi. É loucura! Por que eu havia
de querer que uma criança branca fizesse o papel de Michael Jackson quando eu
era pequeno? Sou negro americano. Tenho orgulho de minha raça. Tenho orgulho de
quem eu sou.
Oprah: Ok, então passemos
ao assunto mais discutido a seu respeito, que é a cor de sua pele. Você está
branqueando sua pele porque não gosta de ser negro?
Michael: Eu tenho uma
doença de pele que destrói a pigmentação e é uma coisa que não curar. Quando as
pessoas inventam historias de que eu não quero ser o que sou... isso me fere.
Oprah: Então você não
está usando nada para mudar a cor de as pele?
Michael: Por Deus, não!
Tentamos controlar e usamos maquiagem para obter uma superfície uniforme,
porque o problema provocava manchas. Foi preciso fazer uma compensação. O mais
engraçado é imaginar por que isso é tão importante.
Oprah: Quantas cirurgias
plásticas você já fez?
Michael: Muito, muito
poucas. Você pode contá-las em meus dois dedos. Nunca operei as maçãs do rosto,
nem meus olhos, nem meus lábios... eles vão longe demais.
Oprah: Você está
satisfeito com a forma com que...
Michael: Eu nunca estou
satisfeito com nada. Sou perfeccionista. Eu nunca estou satisfeito comigo.
Não... eu tento não olhar no espelho.
Oprah: Por que você fica
segurando sai virilha?
Michael: (Risadas) Quando
você está dançando, apenas interpreta a música, os sons, o acompanhamento.
Então, se faço um movimento, é a música que me impulsiona. Não que dizer que
estou ansiando segurar aqui ou ali, a gente não pensa, a coisa apenas acontece.
Às vezes olho para o que fiz no palco e penso “nossa, eu fiz isso?”, então sou
um escravo do ritmo.
Oprah: Mesmo depois de
quebrar todos os recordes de vendagem e de se tornar um ícone da indústria,
continua a pressão para fazer algo maior e melhor?
Michael: Fica cada vez mais
difícil. Você tenta ser o mais original que pode SM pensar nas estatísticas,
mas sim no que indica seu coração e sua alma.
Oprah: De onde vem a idéia
de que você se proclamou Rei do Pop?
Michael: Bem, eu não fiz
isso. Quem disse Rei do Pop pela primeira vez foi Elizabeth Taylor, numa
premiação. E os fãs nos estádios ou na parte externa dos hotéis traziam faixas
dizendo isso.
Oprah: Você já se apaixonou?
Michael: Sim.
Oprah: Por Brooke
Shields?
Michael: Sim... e por outra
garota.
Oprah: Você é virgem?
Michael: Nossa... Como você
pode me perguntar uma coisas dessas?
Oprah: Só quero saber.
Michael: Sou cavalheiro.
Isso é algo privado, não deve ser falado abertamente. Você pode me chamar de
antiquado, mas é muito pessoal.
Oprah: O que quero saber
é: existe a possibilidade de você um dia se casar e ter filhos?
Michael: Eu mim sentiria
incompleto se não fizesse isso.
Oprah: Quero saber se
você fez Neverland para si mesmo ou para as crianças que recebe?
Michael: Para mim e para as
crianças. A cada três semanas recebo grupos de crianças com doenças terminais,
vitimas de câncer. Elas vêm para se divertir. Gosto de compartilhar o que há
aqui com elas.
Oprah: Agora você está
concretizando todas as fantasias da infância?
Michael: Sim, para
compensar. Amo fazer coisas para as crianças e procuro imitar Jesus – veja bem,
não estou dizendo que sou Jesus! Tento imitá-lo ao incentivar as pessoas a ser
como as criança, ser tão puras como elas, manter a inocência e ver o mundo com
olhos de encantamento.
Oprah: Você acha que se
não tivesse perdido muito diversão e fantasia quando era pequeno, estaria tão
em contato coma as crianças hoje?
Michael: Provavelmente sim,
mas não tanto. Por isso é que não mudaria nada. Sou feliz com ojeito que as
coisas são. Fui infeliz por anos e anos. Mas agora sou feliz.
Oprah: O que faz você
feliz?
Michael: Ser capaz de
retribuir e de ajudar outras pessoas.
Oprah: E quando você está
se apresentando, com um mar de pessoas ao seu redor gritando seu nome, o que
você sente?
Michael: Amor. E me sinto
abençoado e honrado por ser um instrumento da natureza.
Oprah: Você é espiritual?
Medita? Acha que há algo maior do que você?
Michael: Verdadeiramente,
acredito em Deus.
Oprah: Acredito que as
pessoas vêm ao mundo por uma razão. E muitos de nós passamos a vida tentando
descobrir qual é seu propósito. Qual você pensa que é o seu?
Michael: Dar o melhor de
mim, por meio do canto, da dança e da música. Quero dizer com isso que tenho um
compromisso com minha arte. Acredito que todas as artes têm como meta a união
do material com espiritual, do humano com o divino. Acredito que essa é a razão
para própria existência da arte. E sinto que fui escolhido como um instrumento
para oferecer música, amor e harmonia ao mundo.
Oprah: Acredita que
talvez as pessoas possam prestar mais atenção em sua música e não julgá-lo por
nada que não seja isso?
Michael: Assim espero e
amaria que isso acontecesse.
Oprah: O que você deseja
que o mundo saiba a seu respeito?
Michael: Que sou um
artista, um grande artista. Amo o que faço e simplesmente gostaria de ser amado
porque amo todas as pessoas, de todas as raças, do fundo do meu coração.
Oprah: Não tenho palavras
para lhe agradecer e lhe desejo toda a felicidade do mundo. Amei vir aqui, me
sentir criança outra vez e quando sair prometir a mim mesma que vou me
divertir, talvez comendo um pouco de pipoca ou aprendendo o moonwalk com você –
quando ninguém estiver olhando.
Michael: Ok, isso parece
muito bom!
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