Em Novembro do ano 2000, Michael se juntou a mim em Nova
York. Nós reservamos um andar inteiro no Four Seasons. Michael ficou com uma
suíte, como sempre, ao passo que Grace tinha um quarto só para ela e eu também.
As crianças geralmente ficavam com Michael em seu quarto, a não que ele fosse
acordar muito cedo para ir ao estúdio, quando dormiam com Grace.
Michael havia montado um estúdio de gravação em outro dos
quartos do andar e levado Brad Buxer para trabalhar lá mesmo no hotel. Uma das
canções que ele e Brad aperfeiçoaram ali foi “Lost Children”, em que Michael
expressava o desejo de que as crianças perdidas do mundo pudessem esta em casa
com os pais. Se alguém ainda pensasse que Michael sofria de um clássico
complexo de Peter Pan, aquela música era prova que, ao contrário do personagem
de James Barrie, ele não desejava viver num mundo em que “garotos perdidos”
habitavam uma fortaleza subterrânea. Michael queria que as crianças estivessem
na segurança de seus lares. Ao final da canção, meu irmão Aldo, então com 7
anos, e Prince, que tinha apenas 3, travaram um pequeno diálogo. Michael lhes
deus frases e Brad gravou suas vozes.
_Aqui na floresta é tão silencioso. Olhe só quantas
árvores – diz Aldo.
_E quantas flores lindas... – acrescenta Prince.
A inspiração para “Lost Children” era a vida emocional de
Michael como pai. Ele sentia quanto sua presença era importante para seus
filhos. Mas Michael possuía esse instinto de proteger as crianças bem antes de
se tornar pai. Sempre havia se preocupado com o bem-estar delas. A paternidade
não o transformou, mas o realizou como pessoa. E, no que dizia respeito à sua
arte, serviu apenas para reforça suas crenças mais ainda.
Michael dizia que suas músicas se escreviam sozinhas, mas
eu o via se esforçar muito em sua criação. Como de costume, ele escutava os
hits mais recentes, acompanhando religiosamente as listas da 10 mais ouvidas.
Sempre tinha suas favoritas, que colocava para tocar o tempo todo. Naquela época, elas eram “It Wasn’t Me”, de Shaggy, e “My
Love is Your Love”, de Whitney Houston. O processo de criação era
diferente para cada canção, mas ele geralmente começava com um trecho da
melodia e então encaixava a letra nela.
Frank Cascio (Trecho do livro meu Amigo Michael)
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